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Cultura

Sou Jorge Torres, o pintor da máquina de costura.

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Minha mãe Joaquina era costureira. Ela costurava e costurava e em ambos os sentidos ela era única e para mim a melhor. Ela era uma mulher muito trabalhadora e empreendedora. Inventei qualquer coisa para sustentar meus três irmãos e fui criado em uma família humilde, crente e de princípios. Meu pai Marco Aurélio economizou trabalhando no cabeleireiro e deu para ele aquela máquina mágica que, aliás, foi meu primeiro brinquedo e o primeiro veículo da família, porque com meus irmãos sempre acabávamos brigando pela possibilidade de passar por baixo dela e dirigindo nosso carro de Fórmula 1, lembro perfeitamente daquele som único da máquina porque, às vezes, adormecia ouvindo e olhando para ela. Ao lado da máquina havia sempre um cachorro que nos davam, chamado Lucky. Também dormi ouvindo a máquina e aos pés da minha mãe, que ficava mexendo no pedal. Para mim, aquela máquina de black metal era enigmática e mágica. Brinquei com os carretéis de madeira onde era enrolada a linha e com os botões multicoloridos que minha mãe recolhia num pote de vidro. Lembro-me que quase me afoguei num deles, exceto minha avó, que também consertava, mas à mão. A máquina de costura era o único aparelho valioso que tínhamos. Com o tempo, meus irmãos e eu aprendemos a usá-lo, era na década de 70 que estavam na moda calças boca de sino masculinas, com bolsos nas laterais, e camisas com enfeites copiados de cantores mexicanos. Logicamente, meus irmãos Alejandro e Marco, minha irmã Emperatriz e eu, nos vestimos na última moda. Tudo girava em torno daquela beleza que estava escondida naquele pesado dispositivo de black metal com leme. Lembro-me que a amiga da minha mãe também tinha uma e agora sei que era um dos utensílios essenciais de muitas famílias e a sua principal fonte de rendimento. Todo o tipo de roupa para homem, mulher e criança da época, e também vestidos de noiva incríveis. inventadas ou copiadas das poucas revistas especializadas que chegaram ao país. Tudo… toda a roupa passou por aquela máquina de costura elementar. Com o tempo, a sua origem me preocupou e parece que começaram a construí-la no século XIV, mas foi um francês quem a construiu em 1830. Foi ele. quase assassinado pelos alfaiates da época porque acreditavam que esse aparelho iria gerar desemprego e por isso queimaram sua fábrica. Lembro-me que descobri a minha paixão pela pintura no dia em que misturei pela primeira vez têmpera amarela e azul na escola e ela ficou verde… a minha descoberta foi mágica e comecei a desenhar e a pintar à procura de respostas para aquele ambiente deslumbrante de cor Concluí o ensino médio e comecei a trabalhar para pagar meus estudos de artes plásticas na Escola de Artes de Bogotá. Um dos meus primeiros sites foi o “Arte Dos Gráfico”, um site dedicado à criação de obras gráficas de artistas reconhecidos. Lá aprendi sobre gravura em metal, serigrafia e litografia, depois estive na oficina do italiano Umberto Giangrandi adquirindo mais conhecimentos relacionados à gráfica e, paralelo a esses aprendizados, fui sempre criando e buscando uma linguagem que me identificasse. Mas por acaso foi um dia ao maestro Juan Manuel Lugo que lhe pedi que escrevesse um texto para uma exposição. Trouxe para ele alguns trabalhos, entre eles um que representava uma mulher costurando no escuro, e ele me devolveu um texto que em um de seus parágrafos dizia: “A palavra sótão fez um caracol soar como uma ocarina e ele começou a costurar pelo rosto e as mãos de uma tia adivinhada no nevoeiro de uma máquina velha e tão ativa com insetos.” Lá percebi que devia muito à máquina de costura, aquela que movíamos de um lugar para outro para criar espaço para dormir. Lembro da minha mãe sentada ali no escuro, com a música dos pedais costurando acompanhada de uma luminária acesa. . amarelo, criando fantasias para os príncipes e princesas de suas fantasias ou talvez com a preocupação de colocar alguma comida no dia seguinte para saciar nossa fome. É por isso que pinto aquela máquina de sonhos inesgotável que herdei da costureira mais linda da minha. fantasias.

Por Jorge Torres

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